Nunca tive a menor vontade de conhecer os livros da saga Crepúsculo, da autora Stephenie Meyer, mas deixando o preconceito de lado assisti as três adaptações para o cinema dessa que seria a saga do momento, a novela vampiresca teen que se tornou um deleite para o público feminino. Independente de todo poder que o universo vampiresco possa oferecer, Edward Cullen (Robert Pattinson), o mocinho da narrativa, possui o dom que muita gente gostaria de ter, o da juventude eterna, e isso o justifica manter o comportamento adolescente ao longo dos filmes, como continuar estudando numa escola de ensino médio, usar penteado arrepiado adotando a moda dos jovens atuais, e é claro, namorar garotas novinhas, mesmo quando se já tem uns cem anos. Ao menos nos filmes o intervalo entre uma história e outra quase não existe, e Eclipse (David Slade) começa exatamente onde Lua Nova (Chris Weitz) termina, o mesmo se diz para o lançamento entre um filme e outro que foi em menos de um ano, e assim o progressivo amadurecimento dos personagens se dá em câmera lenta. Exceto talvez para um certo ´´menino lobo`` Jacob (Taylor Lautner) que no primeiro filme era simplesmente um amiguinho de Bella (Kristen Stewart), a mocinha da narrativa, uma garota bonita porém simples, interpretada por uma atriz possivelmente escolhida a dedo para que todas as garotas da faixa etária pudessem se identificar. Voltando ao ´´menino lobo``, este cortou os longos cabelos no segundo filme, se revela apaixonado por Bella e assume um estilo pitboy, além de apresentar um lado sensual até então adormecido, se exibindo sem camisa onde que que andasse, com certeza mais um artíficio para despertar a atenção do público feminino. Excelente observação de Edward nesse último filme: ´´Ele não tem camisa?``. Jacob torna-se então um concorrente a altura para seu inimigo natural (vampiros e lobisomens não se bicam) Edward Cullen, dividindo as opiniões das meninas por ele parecer até mais másculo e de aparência latina, ao contrário dos padrões europeus e um tanto ´´frio`` do protagonista vampiro, lembrando a cena em que ele esquenta Bella na cabana durante uma tempestade sob o olhar cabreiro, porém passivo de Edward, em que diz ´´posso esquentá-la melhor do que você``. Sim, o menino lobo parece mesmo um latino, e nós latinos somos ´´calientes``, talvez por isso ele se vire bem no frio sem usar camisa. Independente das chances de cada, é interessante para uma adolescente fantasear a sensação de ser objeto de cobiça entre dois garotos bonitos e de postura heróica.
Claro que a história da saga Crepúsculo não se concentra apenas no triângulo Edward/Bella/Jacob. Tem toda uma guerra envolvida entre clãs de vampiros do mal contra vampiros do bem, ´´vampiros recém criados`` e lobisomens, que afinal não é nada de original, um exemplo recente é a saga Anjos da Noite (Underworld), da mocinha vampira Selene. O que acredito a saga Crepúsculo ser o fenômeno que está sendo (que loguinho vai acabar, diga-se de passagem) é o apelo ao público adolescente feminino. Não imagino como termina a saga, mas seria de bom tom se Bella terminasse sem nenhum dos dois, ou com um terceiro garoto, e talvez Edward e Jacob se tornassem amigos, assim estaria exposto e declarado a realidade dos adolescentes, seu comportamento volúvel, inconstante, nada irreversível. Vai dizer que acredita que uma garota de 18 anos saiba o que é amor eterno a ponto de querer para si passar a eternidade ao lado de uma paixonite adolescente? Edward, por ser um senhorzinho, sabe que é melhor não vampirizar a garota. Bella insiste em entrar para o time alegando que o motivo de sua decisão não é a paixão que sente por ele, mas por se achar esquisita, deslocada no mundo e doida para se filiar a uma tribo, essas coisas que todos nós já dissemos em um momento de nossa juventude. O acordo então é feito, des de que Bella aceite se casar com ele, e assim termina Eclipse. Para aqueles que só acompanham a saga no cinema, ainda teremos Amanhecer, que além de mostrar se o ato será consumado ou não (a provavel vampirização de Bella sutilmente representa a perda de sua virgindade) e o desfecho do romance, apresentará cenas numa ilha do Atlântico, próxima ao Rio de janeiro. Veremos qual será a locação. Talvez Bella se torne a última e a primeira mulher oficial de Edward, já imaginou quantas ´´Belas`` viveram com Edward até que a morte os separaram? Enfim, até que Edward e Bella formam um ´´belo`` casal (olha o trocadilho, hehe). Ambos possuem a pele bem pálida e cara de paisagem.
Outro ponto interessante da saga é o conflito de gerações. Um longo espaço de décadas separa a juventude do casal, e enquanto ela, uma adolescente moderna, pensa em ter sua primeira vez com o namorado, este pensa em pedir sua mão para seu pai antes disso. Coisa até bonita, pois as moças gostam de romance à moda antiga. Mas parece que Edward não andava pensando muito nisso, nem cama o rapaz tinha. Aliás, como pode alguém ficar o tempo todo em alerta, sem descanso, por toda eternidade, mesmo sendo vampiro? Essa e outras qualidades, como sua grandiosa segurança sobre os sentimentos de Bella por ele mesmo que ela beije outro cara a poucos metros à sua frente, mesmo não tendo se mostrado tão heróico nesse filme como nos anteriores, o torna o preferido no coração da mocinha. Tomara que mesmo mantendo a mesma cara e o mesmo jeitão por toda eternidade ao ser vampirizada sua mentalidade amadureça, e que não se arrependa, pois será um caminho sem volta. Quanto a Jacob, já está mais do que na hora do garoto partir para outra.