Texto publicado na Revista Mais Mulher de Outubro/ 2012
Resident Evil –
Retribuição
Apenas mais do mesmo
Com um intervalo de um ano entre um filme e outro (os anteriores tiveram de dois a três) Resident Evil – Retribuição chega sem acrescentar nada importante, e ainda não é dessa vez que a saga termina. Não chega a decepcionar, pois quem já assistiu ao menos ao filme anterior já podia imaginar que os elementos adotados por Paul W.S. Anderson para a saga em questão são vislumbres visuais, tiros, explosões, lutas coreografadas, criaturas caprichadamente horrendas e mulheres belas e esbeltas, como um bom cineasta cujo currículo é recheado de adaptações de games. Sendo assim o roteiro batido é facilmente compensado para seu público, a maioria composta por jovens do sexo masculino, por mais uma experiência sensorial semelhante a dos games, desta vez trocando o controle tradicional pelos óculos 3D, como se o espectador acompanhasse um gamemaníaco conduzir o jogo em infinitas doses de realismo.
Está
certo que os jogos da Capcom ainda empolgam, os zumbis continuam na moda, mas
será que precisaríamos de tantos títulos de Resident Evil para o cinema? O
terceiro (A Extinção, 2007) para mim é o melhor, o seguinte (Recomeço, 2010)
serviu apenas para enterrar a esperança de que continuações à altura
aparecessem, mas até aí tudo bem, pois se tratava agora de uma franquia
rentável que acabara de cair na tendência ´´mais pipoca impossível``,
arriscando o caminho que quisesse já que o intuito era encher as salas de
cinema, o problema é que aí vem Retribuição e começa ipsis litteris de onde o último terminou para sabermos depois, com
desconforto, que ainda não é o final. Mantendo fidelidade com a sequencia
anterior, já no início do filme temos uma bela cena em slow motion de
retroação, e uma apresentação bem didática de Alice (Milla Jovovich) sobre toda
a trama ao longo da saga envolvendo a corporação Umbrella,seus planos
monárquicos de dominação global e o T – Virús que reduziu a humanidade em
mortos vivos comedores de gente. Para não dizer que este novo número morre na
mesmice é interessante ver uma versão de Alice mais ´´normalzinha``, como uma
dona de casa feliz, com seu marido e sua filha deficiente auditiva, numa trama
envolvendo clone e mais clones, alguns de velhos conhecidos que passaram pela
saga, incluindo aí Rain (Michelle Rodriguez) em diferentes versões, mas que
infelizmente não conseguiu se sustentar, tendo como seu melhor diálogo a piada
que faz com o traje estilo sadomasoquista de Alice. O que torna o filme
razoavelmente agradável, e independente de se conhecer ou não os jogos de
videogame, são as simulações ultra-realistas de cidades de Nova York, Moscou e
Tóquio, demonstrativo do poder de manipulação da Umbrella, e a heroína
atravessa todas elas como fases de videogame ao lado de Ada Wong (Li Bingbing),
ex agente da Umbrella que se torna uma personagem tão importante quanto Alice,
uma cereja do bolo assim como os personagens Leon (Johan Urb) e Barry (Kevin
Durand), todos oriundos dos games que não tiveram vez até então. O monstrão do
filme anterior com seu martelo de bater carne gigante está de volta, desta vez
em dose dupla, embora a ameaça não pareça mais tão aterradora como antes, mas
convenhamos, uma ameaça já não mete mais tanto medo duas vezes seguidas. No
geral, A Retribuição é um filme de perseguição e luta pela sobrevivência, não
precisamos entender mais nada, as explicações ficaram nos últimos filmes. Alice
e seus amigos humanos tentam escapar como podem, e dessa vez ela tem uma
inesperada vida inocente para se preocupar, e a perseguição de carros,
clichezada em bastante filme, até que funcionou bem aqui.
Alice
Embora
tenha sido uma personagem criada especialmente para os filmes, é impossível
pensar em Resident Evil sem Alice. Até mesmo os fans dos jogos não tiveram rejeição por ela. Num contexto de que a
série para o cinema funciona com a mesma experiência sensorial que um jogo de
videogame, Resident Evil é uma série fetichista, e no caso esse fetiche é provocado
por e para a personagem principal, condutora do fio narrativo e visual que já
se exibiu de diversas maneiras dês de o filme de 2002, ficando ela cada vez
mais vislumbrante, mais fálica e mais humana a cada sequencia, dotada de
superpoderes ou não. Para as mulheres ela é o que poderia se chamar de alter
ego feminino, bem representada por heroínas que agradam a ambos os sexos, em
conotações poderosas e sensualidades sutis, como por exemplo a heroína de outra
cine-série, Selene (Kate Beckinsale) de Anjos da Noite. Só em A Retribuição a
esposa de Paul W.S. Anderson aparece nua numa estalagem secreta da Umbrella,
onde tem um diálogo desesperador e delirante com Jill Valentine (Sienna
Guillory), encontra e veste seu já tradicional e poderoso traje do último
filme, o uniforme preto de corset justinho, e sai na mão em câmara lenta com
zumbis, que afinal estávamos com saudade, nos fazendo lembrar o Kung Fu doido
do Neo de Matrix, sem a necessidade de repetir ameaças antigas; você
provavelmente não sente falta dos cachorros zumbis. Porém, a rainha Vermelha
(Megan Charpentir) está de volta, acabando de nos dar um gostinho bom de
nostalgia e respeito para com a saga. O mais aguardado mesmo é a luta entre Alice
e Jill, e com sinceridade é de tirar o fôlego, não decepciona nem um pouco,
quem ver se surpreenderá.
Pode
até valer o ingresso se souber o que esperar, tomara que você não precise das
explicações iniciais da Alice. É o tipo de filme que me faz me sentir com menos
de dez anos. Resta saber como vai ser o embate final dos humanos sobreviventes
com o exército de zumbis e clones de Albert Wesker na sexta sequencia e final
da saga. Bom, a gente espera que seja.
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