terça-feira, 17 de maio de 2011

Rio – Um grande acerto da animação atual



Matéria minha publicada na revista Mais Mulher de Votuporanga - SP




Ainda no início do ano fomos presenteados por uma novidade de nossa terra, a animação em 3D Brasil Animado, dirigida por Mariana Caltabiano, onde dois personagens, um empresário e um cineasta fazem um tour cultural pelo nossa país. Contudo, o filme não atingiu a expectativa. Dizem por aí que a animação foi feita às pressas para rivalizar com a do também brasileiro Carlos Saldanha (Co-diretor de A Era do Gelo, Robôs e diretor de A Era do Gelo 2 e 3), Rio, que meses depois chegou às telas ocupando merecidamente o posto de animação mais rentável do ano até então. Prestando uma homenagem à sua terra, o que já era tempo considerando que as animações desde sempre ocupam um cenário predominantemente norte-americano, Rio consegue superar animações recente como Gnomeu e Julieta no quesito identificação e criatividade. O próprio título, Rio, simples e direto, já dá uma idéia da grandeza de espírito ao exportar para o mundo as histórias que só nós podemos contar. A história conta a fábula da arara azul sugestivamente batizada de Blu (em sua versão original dublada por Jesse Eisenberg, de A Rede Social, e na versão brasileira por Gustavo Pereira), espécime em extinção, que, além disso, não sabe voar. Capturada por traficantes de animais e indo parar na gélida terra de Minnesota nos EUA, a ave é adotada por Linda, adaptando-se ao clima local e às mordomias da dona, até ser descoberta pelo ornitólogo Túlio (Rodrigo Santoro) que a designa para acasalar com sua única representante fêmea viva, Jade (voz original de Anne Hathaway e em sua versão brasileira de Adriana Torres), encontrada num cativeiro em sua terra natal, o Rio de Janeiro, e perpetuar a espécie. A então ave mal acostumada tem dificuldade de adaptação com outros animais, até mesmo com o sexo oposto, o fazendo sofrer em redescobrir suas raízes e o valor da união ao se tornar novamente presa do maior predador natural, o homem.
O filme já se inicia com um lindo desfile de cores, plumas, matas e paisagens exóticas, bem ao estilo do carnaval, apresentando as belezas naturais de nossa fauna e as variadas espécies de animais, que dançam em alegria contagiante ao som de um sambão. A trilha sonora, aliás, mescla ritmos nacionais com músicas americanas, e os responsáveis por isso são nada menos que Carlinhos Brown, Sérgio Mendez, John Powell e Will. I. Am, esse último membro do grupo americano Black Eyed Peas, que também dublou um personagem, Pedro, novo amigo de Blu e Jade e companheiro do passarinho amarelo Nico.
Como não podia ser diferente, o filme se desenrola nos dias de carnaval e no tumulto característico da época, as batucadas, as paqueras, os turistas, as bebedeiras, as feirinhas locais e a malandragem. Grupos de micos agressivos representam, mesmo que sutilmente, o extenso grupo de jovens moradores de rua que cometem furtos para sobreviver. Porém, por ser uma animação com grande público infantil, e dirigida por brasileiro, o filme não peca por críticas sociais construtivas ou negativas, mantendo como vilão principal os traficantes de animais, que diga-se de passagem, impregnados pelo vício de linguagem e comportamento de um traficante de drogas suavizado, e uma ave malvada, Nigel, uma Cacatua-da-crista-amarela.


Modéstia a parte, o filme é muito agradável aos olhos, sempre fazendo perspectivas de um cenário natural, já que os personagens estão voando o tempo todo. Em 3D então, fica uma maravilha. O casal desengonçado Blu e Jade acabam ficando presos um ao outro por uma corrente, e Blu, com seu medo de voar, acaba mantendo a companheira também em terra firme, sendo esse o maior problema, já que os dois ´´não se bicam``. O casal então é apadrinhado pelo tucano Rafael (George Lopez na dublagem original e Luiz Carlos Persy na versão dublada) que entre outras coisas tenta ensinar Blu a domar o seu medo e voar, e durante a tentativa nossas paisagens naturais como as praias, o Corcovado, o Cristo Redentor e as favelas não ficam de fora. Os cenários são reproduzidos fielmente, embora em uma versão ´´reinventada`` do lugar que já existe, mas que dá uma idéia muito boa da região e para o que os turistas vão encontrar, entre eles os bairros Santa Teresa e Lapa. Embora de maneira suavizada, o filme não deixa escapar um problema real de garotos sem perspectiva de vida que acabam entrando no mercado negro. Mas como é uma fábula, o filme é recheado de bons exemplos e alegria. É um filme otimista, para crianças e adultos, já que há tempos animações não é mais exclusividade para os pequenos. Os brasileiros então ficarão encantados. E os estrangeiros também. 


Pontos altos e negativos


No final do filme os personagens humanos principais se envolvem acidentalmente em um desfile na Marquês de Sapucaí, o que a princípio seria um desastre, mas acabam levando a aprovação da platéia, em uma seqüencia que não foge a estereótipos mostrando ao mundo lá fora o que temos de melhor. Críticas sociais contra a violência e a pobreza, quando feitas, são de maneira tenra, cômica e infantil, o que pode ser um ponto positivo. O filme, afinal, não só fala bem do Brasil como também não empurra a sujeira para baixo do tapete, brasileiros, estrangeiros, adultos e crianças podem se encantar com essa fábula mesmo sabendo que o mundo não é perfeito. Quanto ao fato de todos os brasileiros falar inglês fluentemente bem pode ter sido um erro, mas uma boa solução encontrada para uma animação em que a maioria do personagens são animais e falam entre si quando os humanos não estão olhando, e nessa questão o encaixe do buldogue Luíz (na voz nacional de Júlio Chaves) como um mecânico de Santa Teresa foi genial, quando todos esperavam um humano. O uso de nomes tipicamente brasileiros para os personagens foi outro acerto. A sensualidade da mulher brasileira não foi sequer arranhada, nem os biquínis brasileiros que costumam ser mais curtos se fazem presentes na cena da praia, mantendo a moda dos largos biquínis americanos, não sei se tem alguma associação quanto ao público infantil ou se foi um descuido da produção mesmo. Também ficou devendo mais músicas de artistas de nossa terra. Mas no geral é um filme que fala ´´a nossa língua`` e apresenta ao mundo o que temos de mais belo, sem esquecer referências a outros filmes como A Fuga das Galinhas e Garfield.


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