terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Supernanny, a Encantadora de Híbridos



Para se adequar a um sistema de vida ordinário talvez eu devesse ter passado por uma série de medidas controladoras que produzisse o efeito de uma castração química, e não me refiro ao regime materno ou um estratagema como um chip Mondex implantado na fronte. Pois, apesar de bom garoto, acredito que eu não seja o filho coerente e encantador que minha mãe pediu a Deus. Pode ser que minha natureza aquariana, sonhadora e faminta, sem nunca ter se saciado, não permitisse que eu me enquadrasse na categoria ordinária, e sim extraordinária, mesmo que medíocre. Uma razão que consigo encontrar para minha precoce queda de cabelo que anuncia um não tão distante novo calvo, tal como a real concepção do Super Homem tão discutido por Zaratustra. Distanciando-se um pouco do meu umbigo, é preciso esclarecer que não há subserviência sem prazer em obedecer. Aliás, há, mas isso é tão criminoso quanto obter favorecimento através de chantagem. É preciso, antes de tudo, cativar ou conquistar respeito, admiração, como se faz com os animais. A obediência de um cão a seu dono ou treinador é pautada no respeito adquirido, reconhecimento e laços de fidelidade. Sendo mais forte que o homem, o animal sabe que a mão que o afaga e o alimenta não deve ser atacada até que perdure essa troca entre humano e animal, assim como o amor e a proteção de seu dono pode torná-lo dócil e submisso, pois, ao contrário do homem, o animal sabe o real significado da amizade e projeta em seu dono o centro de seu universo, podendo doar a sua vida para salvá-lo. O animal que por algum motivo se sentir ameaçado ou com fome não êxita em atacar, principalmente aqueles por quem identifica, pelo olfato e por maneirismos reconhecidos, a possível ameaça, já que os animais conseguem identificar a essência dos humanos. Mas falemos agora de outro tipo de "íncapaz", não menos inocente, porém mais indefeso, as crianças. Pais e professores teoricamente são os responsáveis pelo sucesso dos adultos de amanhã. Mas será mesmo? Será que se minha criação fosse seguida ipsis litteris por uma apostila hoje eu seria uma pessoa bem realizada, levando em conta que a criação de um filho é mais complexa do que (a)parece? Acho difícil. Me baseando no que sou hoje, se fosse obrigado a jogar a culpa na minha criação, diria que minha mãe acertou numa coisa e errou em outra. Sou do tempo em que a referência era sempre masculina, a educação e bons costumes eram revistos mediante influência do capital, da presença espiritual e não física, do saber e se orgulhar, da identificação, das promoções e experiências paternas que nos faziam gozar por tabela enquanto a vida adulta não chegava para nos fazer topar e nos frustrar com as enrustidas. Do tempo em que a presença material materna não punha mesa, não nos prestigiava com boa índole comportamental, não ditava regras, não influenciava, por mais que fosse o princípio da época de uma geração criada por mulheres. Não havia trocas e respeito mútuo. Não éramos cativados, e a falta de respeito por nosso padrão comportamental típico da pubescência não nos permitia devolver o que não nos era dado. Como se pode ver, na minha geração nao teve a Supernanny. E eu precisava dela. E sim, talvez hoje eu fosse uma pessoa melhor se em minha vida não tivesse faltado uma Supernanny.



O mundo é feminino

Por mais que o meu pai sempre fosse para mim um exemplo, foi a presença constante da minha mãe que me fez enxergar a materialidade positiva materna. Embora cada vez mais fosse comum filhos de pais separados, a mãe, se não é a fonte mais importante de afeto que uma criança pode procurar, ao menos deveria ser, pois faz uma falta danada, sobretudo para as crianças do sexo masculino. Por razões morais e de segurança, não se vê cuidadores de creche ou professores de Jardim da Infância homens (com excessão do Schwarzenegger), vimos isso já no nome do sistema de ensino, Educação Maternal. Os homens não despertam respeito, segurança ou mesmo simpatia no quesito relação entre adulto e criança. Desde cedo somos orientados a não pedir informação ou falar com estranhos, menos ainda se forem homens. A mulher sempre esteve presente em nossa vida quando precisamos de alguma coisa, bastando chorar para que se materializasse em nossa frente, nos higienizando, alimentando ou cuidando de nossos ferimentos, e isso desde que o mundo é mundo. Já faz bastante tempo em que homens e mulheres trabalham por igual, e pensando nas crianças carentes de atenção e alguém que lhe passasse bons valores através da educação e companheirismo, foi idealizado uma nova super heroína, a Super Babá, encarnada por tipos como Nanny McPhee, A Noviça Rebelde e Mary Poppins, governantas que se tornam para os baixinhos personificações de amizade, ensinamento e segurança que seus pais jamais seriam. Esses personagens fetish infantil, tão cultuados desde décadas passadas, ganharam nova roupagem em versões mais modernas, no reality britânico Supernanny, evocando a Super Babá no sentido literal da palavra. Essa nova heroína não veio para ser exatamente amiga das crianças, e sim dos pais que não sabem como fazer funcionar corretamente seus pimpolhos, o que afinal é justo, sendo eles o porta voz dos filhotes. Se validando do pastiche da governanta encantada conquistadora de corações infantis, a começar pela indumentária, maneirismos e dotada de títulos que lhe valha confiança dos pais e respeito para com seus filhos, como diploma de pedagogia, livros publicados e experiência em trabalhos com crianças, a Super Babá pega casos difíceis com supostas crianças problemáticas, às vezes com problema mais fácil do que se fantaseava, mas devemos levar em conta a audiência, que como espetáculo se necessita. Mas a heroína não pune, educa, uma autêntica treinadora que aponta para os pais o caminho das pedras para a correção dos pestinhas. Atentando para a visão realista da coisa, o então inovador reality gerou suas versões pelo mundo afora, como nos EUA e o Brasil. A inglesa Jo Frost faz uma babá mais jovem que a nossa representante, e embora bem alimentada é mais interessante que a já madura Cris Poli. Jo é atraente, faz linha dura sem ser carrasca, não é boba e disciplina bem, imagino que uma criança consiga respeitá-la mais que uma professora Helena, por exemplo. Além disso não aparenta ser uma figura casta, ao contrário, parece uma mulher experiente, e conforme vai lidando com crianças pequenas transparece ainda mais sua essência tutelar. Não obstante, as crianças mais velhas devem vê-la com olhos mais atrevidos, afinal, é comum a criança do pré-primário inconscientemente projetar na sua professora a imagem de sua primeira namorada. 






Cris Poli, a Supernanny brasileira, é mais experiente  e talvez por isso a credibilidade dos pais por sua eficácia seja maior. Apesar da cara de zeladora de escola, ela não é ranzinza e tem muita paciência, seja no trato dos pequenos como no trato com os adultos, e eu consigo até achar atraente a comida de rabo que a nossa babá às vezes dá nos pais, fica particularmente sexy. Ora, eu me excitava até mesmo com a minha psiquiatra quase cinquentona no meu tempo de adolescência. Aliás, são muitos homens que sentem atração por governantas disciplinadoras, e por mais que eu prefira uma Jo Frost como uma governanta não posso deixar de reconhecer que uma Cris Poli tem seus valores, sua idade avançada pode significar para ela o equivalente para um bom vinho, e sua persona se permite um cuidado enorme com a aparência, estando ela sempre elegante, e inclusive variando as cores do figurino já que o azulzinho, lilás e derivado do roxo, apesar de clássico, já estava saturado.


Lidando com híbridos ou não (aquelas criaturinhas sem vergonha de filmes como Constantine), dando lições aos pequenos e aos pais sem precisar se esgoelar e fazer uso de castigos corporais, o alter ego das babás vem promovendo a paz nos lares desde 2006 em nossa terra, mostrando que a disciplina a longo prazo é que é o melhor amigo dos baixinhos, ao contrário das pregações tatibitati da Xuxa. E que de pudica não tem nada, só Deus pode saber os mistérios que se escondem sob o uniforme daquela experiente senhora que sabe e gosta de mandar. Agora entendeu a falta que uma dessa fez em minha vida?

Mamãe disciplinando pestinhas. Gostei dessa foto.

Um comentário:

Geekskywalker disse...

Opá cara blz, gostei do post algo bem verdadeiro e daora pra se falar, da uma olhada no nosso blog, se quiser fazer uma parceria me manda um email: dahorasespuletas@gmail.com

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