segunda-feira, 25 de março de 2013

A Volta do Filho Pródigo


 Desde sempre considerado um patrimônio da Rede TV, João Kléber foi uma personalidade cult do comecinho dos anos 2000, mesmo que negativamente. Numa época que o Google era o Yahoo os únicos resultados encontrados com o nome do apresentador eram páginas criadas por hatters, quase todas desenvolvidas pela HPG (lembra dessa?) com titulos como ''Eu te odeio João Kléber", ''Morte ao João Kléber" entre outras coisas do gênero. Quando o país parecia não mais precisar dele o apresentador fez o que muita gente agradeceria, se ausentou da Tv brasileira. Passando um bom tempo em Portugal apresentando versões de seus programas que já eram de qualidade duvidosa por aqui, isso lá por 2005 quando seus programas campeões de baixaria e até então supra-sumo do mau gosto da Tv aberta não conseguiam mais se erguer depois de tanto processo e acusações de todo tipo. Em 2011 a mídia fez questão de nos lembrar de sua existência quando este se tornou participante do reallity A Fazenda. Fora do mundo artístico acabou retornando este ano para a emissora que o ''consagrou", que também não anda lá muito bem das pernas, numa tentativa cega de dar uma reestabelecida. Hoje João tem de volta seu quadro sem conteúdo Teste de Fidelidade no formato de programa nas noites de domingo, reprisado na madrugada de sábado para domingo. Sinceramente não achei uma escolha despropositada, a emissora não tinha mais o que perder e afinal, o apresentador sempre foi mesmo a cara da Rede TV, não consigo imaginá-lo em outro canal, tanto que foi nesse que ganhou projeção. Mal e porcamente comparando, é como se o Gugu retornasse ao SBT. Acontece que, apesar dos tempos serem outros, João Kléber retornou com o mesmo espetáculo popularesco e grosseiro de mais de dez anos atrás, será essa a melhor alternativa de uma emissora gerar receita e correr atrás do prejuízo? Num país em que os altos índices de audiência transitam entre atrações como BBB, novelas e A Fazenda no horário nobre, parece que a resposta continua sendo sim. Mas nem sempre as atrações apresentadas por João Kléber eram de toda ruins. Lembraremos agora dos tempos em que o apresentador contribuía de forma satisfatória para a história da Tv brasileira.

Te Vi na TV

Freak Show

Apesar das verdades ditas, sinto admiração ao João Kléber. Para mim ele é aquele cara legal dos tempos de adolescência, e essas palavras vem de ninguém menos que alguém que tinha entre seus 16 à 21 anos quando morria de rir com seus programas de humor. Claro que ele é um tremendo de um chato e um picareta, mas fazia o papel dele, era como uma espécie de Sérgio Mallandro de tempo tardio, não eram poucas as situações bizarras que expunha ao público, suas pérolas clássicas, comportamento peculiar sem noção e tentativas desesperadas contextualizadas, a maioria das vezes sem sentido nenhum, de prender audiência, o que acabava me gerando uma certa identificação. Nunca tinha conhecido um apresentador tão ousado, bizarro e sem noção desse jeito. Quando a Rede TV ainda engatinhava, que eu consigo me lembrar com carinho e me dá até peninha pensar em como ela está agora, mas sempre torcendo por ela (lembra do programa da ex-paquita Sorvetão? E a Adriane Galisteu apresentando o Superpop?) João Kléber apresentava um programa segundas à noite chamado Te Vi na Tv, mais tarde rebatizado por Eu Vi na Tv, com a banda Karnak como o Quinteto Onze e Meia. À tarde apresentava um programa diário chamado Canal Aberto, que viria a se tornar Tarde Quente, esse sim de baixíssimo nível e atrações grotescas, escancaradamente vulgar e apelativo. Em um deles um homem aparentemente normal dizia nunca ter namorado e a platéia tentava adivinhar o porque. Pouco depois, não lembro em qual dos dois programas, o quadro de maior sucesso Teste de Fidelidade, que viria a perder a credibilidade quanto a sua legitimidadee quase com a mesma velocidade que caiu no gosto popular, mas não tardou a saturar o espectador. Mas o mais interessante em sua carreira na Tv, ao menos na minha opinião, eram as pegadinhas. Eu me amarrava em ver aquilo. Tendo início de forma discreta já nos primórdios do Te Vi na Tv, as pegadinhas da casa foram se popularizando com o passar do tempo até tornarem-se o grande triunfo da emissora, chegando ao ponto em que Eu Vi na Tv acabou se tornando um programa só de pegadinha. Os atores se dividiam entre o Marquinhos, aquele gordão que sempre se disfarçava dono do bordão híper famoso "O que, o que, o que, o que", Renê, um coroa alto e magro cuja maior habilidade é dar gritos e assustar pessoas, naquelas clássicas em que a graça mesmo são as reações diversas ao susto, e tantos outros que não lembro o nome, mas a trupe era grande, fazia divertidas brincadeiras com falsos pesquisadores, gays, bêbados e gostosas, rendendo com isso processos por parte de grupos conservadores que se sentiam ofendidos, quando a tolerância à piadas começava a se radicalizar. Quando esse quadro de humor estava chegando ao seu auge um ator demitido botou a boca no trombone, garantindo que as pegadinhas eram armadas, as ''vítimas" seriam pagas pela já mísera quantia de cinco reais e orientadas a reagirem com empurrões e pontapés, além da clássica verbalização "Tá me tirando?" de sotaque paulistano, já que eram todas gravadas em São Paulo, mas desde que as pegadinhas foram inventadas essas acusações tornariam-se típicas. Certa vez reparei que no início do programa umas letrinhas passavam correndo quase em fuga no rodapé formando os dizeres que procuro reproduzir da maneira mais fiel possível: ''Brincando na rua: As pessoas sabem que estão participando de uma brincadeira, só não sabem qual é a brincadeira". Pelo que interpretei, a questão estava respondida, os atores postos na rua falavam a verdade. Para mim não existia meio termo. Além disso, com a popularidade alta das pegadinhas e o bordão ''O que, o que, o que, o que?" consagrado nacionalmente era difícil imaginar que ''as vitímas"" (eu preferiria dizer ''os pedestres"", mas vai que ninguém entende) não reconheceriam os atores e seus maneirismos. Mesmo assim assistia sempre que podia e morria de rir com elas. E quer saber, mesmo na época eu pensava de um jeito que seria diferente do de grande parte das pessoas, para mim o que valia era a piada, o quadro de humor, mais ou menos como quando a gente assiste a uma esquete cômica com roteiro e direção, mas sem ser demagogo o suficiente de não reconhecer que eu tinha um pinguinho de esperança que a pegadinha fosse real. Enfim, elas fizeram tanto sucesso que até o Canal Aberto virou um programa só de pegadinha, com o diferencial de que este só exibia pegadinhas que já tinham ido ao ar em Eu Vi na Tv, até a emissora se empolgar e passar a exibir no Canal Aberto, numa ação inteligente ou não, pegadinhas também inéditas. Eu preferia quando passava apenas no programa de segunda à noite, tinha reprise no sábado e a espera era mais prazerosa e recompensadora, demasiada exibição acabou deixando a transmissão saturada, mas nada que me fizesse enjoar, e por anos e anos acompanhei, como multidão de jovens, as brincadeiras e travessuras da trupe dos programas apresentados por JK.

Chegou a um ponto em que, após tantas exibições de reprises, inéditas, armadas ou não, começávamos a nos perguntar se o apresentador de fato ganhava bem para tolerar repetitivo festival diário por tanto tempo, sendo que duas vezes em um dia da semana, mas esse raciocínio ia só até considerarmos que era o trabalho mais mole que existe, até para o meio artístico. Eis que em um determinado ponto o programa de segunda à noite começou a eliminar o que mantinha e investiu em atrações sem propósito como um programa inteiro só falando das bizarrices do Michael Jackson, e um dia as pegadinhas, que já haviam perdido seu encanto, foram tiradas das atrações do programa diário. O próprio João dizia: ''Não sou apresentador de pegadinha". Mudando o formato de seu programa com coisas do tipo Game Show e esquetes em que também atuava, ou mesmo retomando quadros antigos como Teste de Fidelidade e voltando a investir em atrações grotescas, perdi o interesse por completo em assisti-lo, exatamente na época em que numa de suas tantas tentativas de alçar audiência o apresentador sofreu um ''desmaio" no ar sem tombar o corpo. Sua produção então achou por bem voltar com as pegadinhas, mas aí era uma época em que eu estava começando minha faculdade e direcionava meu interesse para outras coisas. E assim o apresentador sumiu do ar, depois de ter conquistado pessoas de todas as idades com suas pegadinhas que, creio de verdade, foram a galinha dos ovos de ouro da emissora.


Teste de Fidelidade, apesar do apelo discreto, não imagino que tenha força para bater de frente com as atrações dominicais do horário. Quem sabe se voltassem com pegadinhas as coisas não passariam a ficar mais interessante. De qualquer maneira a emissora não poderia ter tido uma opção melhor do que o apresentador João Kléber para ocupar o espaço vago da grade. Pena não terem lembrado de chamá-lo para capitanear o SNL Brasil enquanto ainda não era tarde.

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