segunda-feira, 7 de julho de 2014

Robocop de José Padilha - Crítica




Está certo que todo mundo gostou da escalação de José Padilha, nosso ilustre diretor que lançou ao mundo Tropa de Elite e sua sequencia igualmente ótima, para ocupar a cadeira de direção do novo filme do policial ciborgue criado pelo holandês Paul Verhoeven, e mais, trabalhando com sua própria equipe de filmagem. Antes disso, todo mundo gostou de o policial do futuro dar as caras novamente no cinema depois de 20 anos, e o momento não poderia ser mais oportuno que o atual, onde personagens de filmes antigos estão conquistando seu merecido revival. Não se trata de uma sequencia, nem poderia se tratar, afinal, muito tempo passou e as características transumanistas de Alex Murphy estão pra lá de datas, a biotecnologia (e os espectadores mesmo) clamariam por intervenções mais elaboradas. Este novo Alex Murphy é mais bem adaptado para sua realidade policial, começando pela cor preta da armadura, brilhantemente sugerida por um dos personagens, mas lembrando com carinho das características de seu antecessor, como a primeira aparição do agora Murphy híbrido de homem e máquina. O som mecânico dos passos pontuados permanece, assim como a música tema, elementos postos cuidadosamente para aproximar o melhor possível o novo conceito ao clássico personagem, preocupados em lembrar o espectador que aquilo ali que se passa na tela não é outro filme de ficção científica, e sim uma reinterpretação do agente policial cibernético atuando numa distópica Detroit. Mas são apenas essas as coisas do tipo, de fato a história se afasta bastante do aspecto original. O novato Alex Murphy inseguro e preocupado em seguir à risca as leis sai de cena dando lugar a um mais tempestuoso, preocupado em pôr as mãos no culpado pela emboscada que sofrera junto a um parceiro culpando sua organização e desejoso por justiça, nem que para isso precise atuar sozinho. A greve e as críticas ao sistema policial, tão fortemente discutidas no filme de 87, não fazem parte do universo deste novo Robocop, e os divertidos filmes publicitários da OCP perdem espaço, porém, há uma substituição que caiu como uma luva para preencher espaços importantes, como o âncora de televisão Pat Novak, personagem de Samuel L. Jackson, apresentador fervoroso em sua aposta de que seres infalíveis desprovidos de sentimentos humanos sejam a solução para combater a criminalidade cada vez mais crescente, personagem que, aliás, não é muito diferente do personagem de André Mattos em Tropa de Elite 2. Mais visceral e menos poético, essa nova versão é bem capaz de enjoar espectadores sensíveis, expondo o que de mais grotesco e realista existe nesta concepção entre humanos e máquinas, a questão ética é amplamente abordada, e é claro, os opositores, mesmo os dentro do esquema, não ficam passivos. É interessante acompanhar o treinamento do oficial militar Maddox (Jackie Earle Haley), contra o projeto desde o início, despejando seu descontentamento sobre o híbrido que Murphy se transformou. O novo Robocop é mais humano, com mais noção de civilidade, por conseguinte não perdeu sua família como na clássica versão, podendo contar com a presença ativa da esposa desde antes de se tornar o policial de aço. Clara Murphy (Abbie Cornish) sem dúvida tem uma participação importante, compete justamente com o protagonista o papel de heroína do longa. Se em sua versão original o herói contava com a estimada parceria de Anne Lewis (Nancy Allen), desta vez seu cônjuge é seu braço direito, pondo em prova que não é preciso preparo físico e empunhar pistolas para fazer diferença na vida de um herói. No entanto, este novo filme do policial de aço funciona mais como um bom entretenimento de ficção científica que pega emprestado um grande nome do que um filme policial inovador, cujo personagem principal não consegue causar mais tanto frisson como vinte anos atrás. O resultado de sua ressurreição não ficou tão diferente do que fizeram com Dredd (Pete Travis, 2012), refilmagem do brilhante filme estrelado por Stallone em 95, se for fazer comparação. O que não podiam deixar de fazer, evidente, era encher a película de efeitos especiais, não necessariamente com sangues e tripas para atingir uma audiência mais ampla, e isso o novo Robocop tem de sobra. Os novos equipamentos do robô da lei não ficam devendo nada aos gadgets de personagens estilo Homem de Ferro, o que nos faz pensar que a versão anterior era, muito além do quesito temporalidade, bem mais realista. Em determinado momento a ameaça singular do robô ED-209, que ficamos tão contentes em saber que o reveríamos numa versão modernizada, deixa de ser importante frente a um bombardeio de gadgets deslumbrantes e efeitos visuais que não tínhamos na época do último Robocop, só que quando o filme acaba temos a sensação que, se o policial do futuro estava devendo alguma coisa, agora já não deve mais. Difícil imaginar o que o herói teria a oferecer para uma continuação, e digo mais, os melhores filmes de ficção científica continuam sendo os antigos. Mas não podemos deixar de contar como ponto positivo a citação ao universo O Mágico de Oz com a mesma profundidade que outra citação feita em outro filme de ficção científica, O Homem Bicentenário, adaptação de um romance de Isaac Asimov. E é apenas essa colcha de retalhos de componentes do universo ficcional de linguagem popular, somada a deliciosa alfinetada ao conceito de supremacia norte-americano bem colocada no final que consegue elevar o filme a uma posição de respeito. 




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