sábado, 24 de novembro de 2012

Ted Um Ursinho da pesada


Texto saído na Revista Mais Mulher de novembro/ 2012



















A estréia de Seth MacFarlane na direção de longas de cinema provou ser o que todo mundo já esperava, o animador sabe fazer um bom humor em qualquer mídia. Com uma premissa muito bem escolhida para que seu primeiro longa emplacasse, Ted é um ursinho de pelúcia companheiro e falante que cresceu junto com seu dono, e, porque não, adquiriu personalidade própria, humor ácido, maus hábitos (a função de todo bicho de pelúcia é a companhia, não a educação) e mau humor. Quem é acostumado com o universo bizarro onde se ambientam as séries animadas do criador, como Uma Família da Pesada, American Dad e The Cleveland Show, sabe que é comum a idealização de MacFarlene por seres falantes inusitados, como o ET Roger e o peixinho dourado Klaus de American Dad, e o cachorro Brian e o bebê superdotado Stewie de Uma Família da Peasada (no original, Family Guy), e o mais curioso, a verossimilhança em que os personagens são retratados nas histórias, como se interagir com um cachorro falante de comportamento humanóide fosse como interagir com uma pessoa do sexo oposto, por exemplo. O que tornam esses personagens diferentes do urso do filme é que nele o autor até que explica a razão da verossimilhança, numa solução simplificada e clichê, mas bem que ficou bonitinho; o solitário garoto John (Mark Wahlberg, o Vencedor) cansado de ser rejeitado por todas as crianças do seu bairro, ganha um urso de pelúcia na noite de natal e fica contente com o brinquedo que até dizia uma frase quando apertado. Desejou que o brinquedo falasse com ele de verdade no instante em que uma estrela cadente atravessava os céus, e num típico momento de milagre natalino o pedido é atendido. Ted e John (mais alguém ligou o nome do protagonista ao ´´dono`` do Garfield?) tornam-se melhores amigos e apesar do susto inicial dos pais do garoto, passaram a aceitar sua existência no mundo real, até mesmo para o bem do garoto. O urso (que ganhou a voz do próprio Seth MacFarlene e foi concebido através de truques de captura de movimento) vira uma espécie de celebridade, mas foi caindo no esquecimento com o passar do tempo, embora as pessoas continuassem acostumadas a vê-lo como uma pessoa normal. Hilária a narração de Patrick Stewart nos lembrando que o processo de esquecimento faz parte da vida de qualquer celebridade, incluindo aí umas alfinetadas em alguns famosos.

Comédia romântica

Está certo que Seth MacFarlane é Seth MacFarlane, seu humor negro e bizarro vai marcar suas obras para sempre, assim como as citações desfavoráveis às celebridades americanas, piadas politicamente incorretas, momentos grotescos e escatológicos, além de comentários de mau gosto que compõem a linha tênue que separa o aceitável da agressão aos bons costumes. Porém a trama gira em torno da relação amorosa de John e Lori (Mila Kunis, Amizade Colorida), um namoro que após completar quatro anos faz John pensar qual seria o passo mais importante a ser tomado com a relação. Lori, por sua vez, já sabe qual; pedir para Ted sair de sua casa. É aí então que o rapaz se vê num dilema, casar com a mulher que ama ou ficar para sempre com seu melhor e único amigo de infância, que além de tudo ainda o ajuda a combater a fobia de trovoadas.
O longa é bastante criticado principalmente em relação à censura, mas quem conhece as animações citadas sabe que Seth MacFarlane foi bastante mutilado por Hollywood. Nos seriados ele era bem mais radical. É um filme adulto, ninguém discute, mas eu diria até que ele tem um apego popular, funciona para diferentes camadas de público. Transita pelo infantil fofinho que todos nós vimos (ou ainda vemos), pela típica comédia besteirol americana e pela comédia romântica açucarada. Aliás, no fim o que sustenta é o recheio da comédia romântica de bom costume e das mensagens de filmes de companheirismo masculino, além da vazão à nossa criança interior e a lição que fica para a resistência dos adultos em se manterem sempre jovens por dentro. É mais que uma comédia, e talvez a maior preocupação de certos deputados seja serem lembrados que o perfeito não existe.



Seth MacFarlane é Seth MacFarlane

Lori exige que Ted passe a morar em outra casa não por menos, o urso é um péssimo exemplo para John. O rapaz cresceu imaturo, sem um direcionamento de vida, e embora trabalhe é extremamente irresponsável, prefere ficar em casa vendo TV, bebendo, usando drogas ilícitas e falando besteira com seu ursinho companheiro, em um total estado de conformismo, recusando-se a aceitar que outras coisas podem ser mais importantes. Com certeza em algumas nuances muitos homens se identificam com John, o que torna o filme, apesar de ser uma comédia romântica, muito mais atraente para o público masculino, bastando lembrar o gênero de companheirismo masculino no qual este ganha corpo. Mas apesar de nos apresentar um John sem perspectivas, constantemente lembrado de que precisa melhorar, Ted sem dúvida é o protagonista. Facilmente reconhecido pelo DNA de seu autor, é o ursinho de pelúcia junkie e mulherengo que conduz o fio narrativo e faz o filme acontecer. Isto se mostra desde que ele deixa de ser simplesmente um pertence de John para ter uma vida independente, trabalhando e vivendo sozinho num apartamento. Mas a amizade de Ted e John não diminui e os dois promovem juntos farras e curtições, mesmo que isso prejudique o emprego e o namoro de John. Como de praxe em seus seriados, Seth MacFarlane não poupa referências à cultura pop, tampouco dos anos 80, período em que John e Ted passaram a infância, citando como exemplo ET, o Extraterrestre, Alf, o Eteimoso, Ted Ruxpin, um dos muitos xarás do urso, e a mais substancial do longa, o seriado e o filme do Flash Gordon, trazendo o ator Sam J. Jony para uma participação. Até Peter Griffin é citado por Ted (Mila Kunis inclusive é dubladora de Meg, filha do casal Griffin de Uma Família da Pesada). O urso também critica a Hasbro, empresa de brinquedos, por não ter sido fabricado exatamente como desejava.
O longa também tem momentos de aventura, vilões bizarros e até momentos tristes. Mas o final e as mensagens que ficam não devem nada para os filmes da Disney. Quando o filme acaba ficamos com duas certezas, a de que Seth MacFarlane é o novo Matt Groening, e Ted foi o melhor presente de natal que uma criança podia ganhar.

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