Não tenho problema em frisar que Baba Cósmica foi
para mim uma das bandas mais significativas em meu tempo de
adolescência. Ainda numa era Pós-Mamônica em 1996 tive contato com esse
até então Mamonas Assassinas alternativo, que era muito mais pesado e
que na verdade de Mamonas não tinha nada, endossando meu gosto recém
adquirido por rock. E por dois longos anos, o que é consideravelmente
muito para quem está na puberdade, Gororoba, álbum de estréia da banda,
encabeçou minha lista de CDs preferidos e por todo tempo a banda, que já
era bem sumida, foi mantendo a minha carência por reportagens numa
época que a Internet era para poucos. Mas ia divulgando o grupo à minha
maneira, e para cada amigo meu que eu apresentava o som se tornava o
mais novo apreciador da banda. Em 1998 ganhamos um novo presente, o
segundo CD intitulado O Que Você Quiser, naturalmente mais
trabalhado e apresentando a novidade de que, com excessão do baterista
quebra galho, todos os integrantes cantavam, numa genuína versão pesada
de boy band. Mas o grupo não durou muito tempo, continuou nas trevas da
mídia até enfim se desmanchar. Mesmo assim continuei curtindo os dois
únicos CDs por um bom tempo. Muitos anos depois graças a Internet pude
ter acesso numa ação saudosista de umas faixas gravadas ao vivo do
evento Eletro Acústico de um ano remoto, e mais recentemente ainda o blog http://demo-tapes-brasil.blogspot.com.br/ me fez uma surpresa que equivaleria a um presente especial, o download das duas primeiras demos do grupo (!!!), é muito e eu pagaria com dinheiro. Além de ter acesso a clássicos de Gorroba que fez minha adolescência verdadeiramente feliz em versões garagem pré-concebidas, ainda conheci músicas que não foram para frente, que foram inéditas para mim, e olha que estava carente disso há tempos. Foi como ganhar um CD novo. Imagine a delícia em saber que o grupo que você aprendeu a curtir des de seus treze anos de idade, extinto pouco tempo depois, ainda ter material a ser descoberto quase vinte anos depois, comparo isso a descobrir episódios inéditos do Chaves no Brasil. Se os caras que fazem a manutenção do site soubessem o bem que fazem para pessoas como eu, saberiam que seu lugar no céu é garantindo. Para você que curte bandas antigas, é orfão de alguma ou é um arqueólogo saudosista como eu, não deixe de dar uma conferida em http://demo-tapes-brasil.blogspot.com.br/ Tomara que o site lhe faça tao feliz como me fez, a sensação é tão indescritivelmente agradável que, se o bom ditado proclama que devemos amar o próximo, desejo o mesmo para você, caro leitor. Vai lá.
Músicas antigas do Baba
Ao contrário do que foi decidido já no primeiro CD, não eram todos integrantes que cantavam. Em algumas músicas tive a impressão de que o baixista Felipe também cantava, como a primeira versão de Sábado de Sol, mas não tenho certeza, de qualquer forma se for, são bem poucas. O grupo lançou duas demos, a primeira em 1994 (se os caras já eram moleques no tempo dos Mamonas, imagina os pivetes que eram na época) e a outra de 95 com apenas cinco músicas, mas em versão com mais qualidade e que realmente viriam a fazer parte do primeiro CD, incluindo a então novidade Mato, com arte de capa mais trabalhada em traços que assemelhavam-se ao estilo da capa de Gororoba. As canções ''inéditas" são:
Gugu dadá: Que banda de playboy que nada. Quem pensa isso não conhece a real essência do Baba. Em seus primórdios eles eram bem mais pesados, mais punks, lembrando até mesmo Garotos Podres e Titãs.
A História de Madalena e Pedro Guerra:: Influência ao estilo Raimundos. Me faz pensar um pouquinho em That's What I Say, de O Que Você Quiser. Quem sabe foi fruto dessa.
Namoro Severo: Essa é para o Baba o que seria para o funk o Proibidão. Um dos versos da letra é ''se ela não der, você pode estuprar". Descartada, naturalmente. Mas quando se é adolescente, não se atenta ao que se fala. Perdoados.
Zero à Esquerda: Bem punkzinho essa, e bem humorada também. Gostei. Mas se o estúdio queria jovens engraçadinhos pagando de mauricinho, essa não colava.
Musiquinha de ninar: Música bacana, só que nada que chame atenção, mas valeu. Digo e repito, o som com a voz do guitarrista e vocalista oficial Pedro Knoedt nos dá a sensação de estarmos ouvindo um terceiro CD. E o Pedro, sem sombra de dúvida, era o melhor vocalista.
Ontem ou anteontem, sei lá, fez quinze anos (!!!) que os Mamonas Assassinas morreram, e isso me deu a sensação de estar velho pra cacete. Eu tinha 13 aninhos quando foi anunciada a morte do querido grupo no auge da sua carreira em um dia deprê no Domingo Legal (que no dia merecia ser chamado Domingo Ilegal). Enfim, o grupo trouxe tanta alegria para nós brasileiros, fez me interessar por Rock (comecei por eles sim, e daí?), que merecia ser escrito um post sobre eles. Mas como obviamente não teria mais novidades sobre eles, tudo o que tinha foi falado exautivamente no ano de 96, resolvi escrever sobre um ´´genérico`` (tô zoando mesmo hahahaha), o Baba Cósmica, grupo de moleques espinhentos que tiveram o nome mais evidenciado por causa do Mamonas, embora não tivesse muito a ver e nem ter feito um décimo de sucesso deles.
Baba cósmica, originalmente era um power trio (nome mais chiquezinho dado às banda de apenas três integrantes) formado por Pedro Knoedt (Guitarra e voz), Felipe Knoblitch (baixo) e Rafael Ramos (bateria), todos eles na faixa de 16 a 18 anos, que tocava uma espécie de hardcore melódico/ punk rock com letras babacas, mas que na época eu me amarrava mesmo assim. Para muitos, o tipo de som era considerado ´´Rock Danoninho`` ou Punk Rock Bubblegum`` (se você não sabe o sentido literal da palavra Bubblegum, saiba que é um tênis infantil), meu irmão me zoava por que eu gostava deles. Pouco após a era Mamonas começava a notar esse grupo, a partir música Sábado de Sol, que havia descoberto que era originalmente canção deles, pouco antes do Mamonas irem para o beléleu. Antes eu já sacava que eles abriam os shows dos Mamonas, e a julgar pelo nome achava que era uma banda bem parecida, e mais tarde fui perceber que era bem mais pesado e que de fato as semelhanças entre os grupos só se davam pela regravação piorada de Sábado de Sol, e a relação que o dois grupo tinham de descobertas e amizades (Rafael, baterista do baba, foi quem descobriu o som dos Mamonas e chorava para o pai contratá-los). Eles nunca quiseram ser os ´´Mamonas Assassinas 2``. Era de praxe na época fazer falsas citações de possíveis substitutos do finado grupo (até Raimundos (!!!) foi cogitado) e Baba Cósmica foi o mais referenciado. O próprio Rafael Ramos ligou para a revista Showbiz para pedir que parassem com as comparações. E como minha memória é boa, eis umas frases que lembro serem ditas pelo grupo numa edição de Globinho, seção do jornal O Globo da época ´´Quem comprar o nosso disco achando que é igual o deles, vai ver que não é nada disso/ fazemos um som mais adolescente e menos pretensioso, não queremos estourar como eles/ a única semelhança entre o som deles e o nosso é que eles usavam o humor, mas grupos como Blitz e Ultraje a Rigor também usavam o humor``. Podemos asim dizer que o grupo tinha personalidade.
Com o grupo mais evidenciado, indo para programas como Xuxa Park ou Xuxa Hit, não lembro bem, mesmo eu só tendo conseguido assistir uma apresentação deles no programa da loira anos e anos mais tarde pelo Youtube, só se ouvia Sábado de Sol, parecia que o grupo só tinha essa música. Quando eu comprei o primeiro CD em 96 (Gororoba, pela Natasha Records) me amarrei ainda mais no Baba e passei assim a considerar o meu grupo favorito. Desde então, passei a me interessar mais por Rock e descobri que era o tipo de som que mais ia fazer parte da minha vida dali pra frente. Conheci um novo hit, uma Pedra No Meu Caminho, que mais tarde iria fazer sucesso no Top 20 MTV, embora eu não tivesse acompanhado a emissora na época e ter perdido muitas chances de assistir o videoclip, que para mim era uma raridade conseguir assiti-lo a partir do ano de 97. Mas muita gente não gostava deles, não pela música, mas por os acharem playboys e infantis, muita gente metia o pau no Rafael dizendo que o grupo só existia por que ele é filho do vice presidente da gravadora EMI Odeon, João Augusto de Macedo Soares.
Mas de fato o grupo nunca fez muito sucesso. Eram raras suas apresentações, tampouco ouvir falar de um show deles. Após dois anos sem notícia, sem matéria em revista ou jornal, eis que surge uma novidade; o grupo se preparava para lançar um novo CD, agora por uma gravadora diferente, produzido por Jack Endino, que já tinha produzido Titãs. Parecia que o grupo enfim ia deslanchar de vez. Pela mídia que falava mais do que sabia, Rafel Ramos agora era o vocalista e foi arranjado um substituto para ele, Alexandre Griva, amigo de infância de Rafael, e que mais tarde faria parte do Jimi James também como baterista. Estranhei Rafael Ramos passar a ser vocalista, se bem que desde a época que era um mero baterista era considerado o líder do Baba Cósmica, o que mais se destacava dos três, inclusive apresentava um programa na MTV ao lado de Adriane Galisteu, Quiz MTV. Tal destaque era imaginado por ele ser filho do vice presidente da EMI, e minha cabeça juvenil acreditava que o amigão do Rafa queria entrar para a banda também, e para não deixar o amigo na mão, Rafa aceitou ele como baterista, ficando assim sem função, e sobrando para ele apenas o vocais. ´´Vou fazer o que? Vou cantar. O Pedro já é guitarrista mesmo, não vai ficar sem função``. Hahaha, grupo de adolescente é foda.
A mídia exagerava. Rafael Ramos NÃO SE TORNOU O PRINCIPAL VOCALISTA. No segundo disco (O que você quiser, lançado em 98) o vocalista principal continuava sendo o Pedro, e tecnicamente podemos dizer que Rafael Ramos só cantou quatro músicas e Alexandre Griva tocava bateria em quatro faixas, mesmo que em algumas outras ele tocasse outros instrumentos, como pandeirola, triângulo, chocalho.... Como podemo ver, Alexandre era só um quebra galho, e eu ficava imaginando como eles fariam nos shows, devia ser uma lambança só, ia ter neguinho parado no palco sem função. Mais uma vez, ´´grupo de adolescente é foda``. O que ajudou a crer que o Rafael se tornou o vocalista principal é ele ter cantado a canção que abre o segundo CD e dá título ao mesmo, que rendeu o único videoclip do disco. Na verdade todos os Babas cantavam nese novo disco, com excessão de Alexandre, cada um uma parte, mas se formos generalizar e contar o vocalistas principais de cada música, pensaremos desse jeito:
1 - O Que Você Quiser - Vocalista principal: Rafael Ramos.
2 - Sua Falta - Vocalista principal: Pedro Knoedt.
3 - Menininha - Vocalista principal: Pedro Knoedt.
4 - Borogodó - Vocalita principal: Pedro Knoedt.
5 - Se Ela Foi Embora - Vocalista principal: Rafael Ramos.
6 - Frankenstein - Vocalista principal: Pedro Knoedt.
7 - Ela - Vocalista principal: Felipe Knoblitch.
8 - Nem Com Tiro Eu Me Calo - Vocalista principal: Rafael Ramos.
9 - Thats What I Say - Vocalista principal: Pedro Knoedt.
10 - ´´Estore`` Sua Cabeça - Vocalista principal: Rafael Ramos.
11 - Eu Te Odeio - Vocalista principal: Felipe Knoblitch.
Então, definiremos por cima que Pedro Knoedt cantou seis músicas, Rafael Ramos quatro e Felipe Knoblich duas. Hilário no encarte quando se referiam aos backings vocals como ´´gritos``. O único que cantava as músicas sozinho sem nenhum backing foi Felipe. Eu Te Odeio ele mesmo escreveu sozinho. No primeiro CD ele só cantava Era Uma Brabuleta, musiquinha bastarda escondida no finalzinho do CD, mas que era legal mesmo assim.
A voz do Rafael Ramos até que era bacana, pesada, gutural, grave, e dividia com Pedro músicas brilhantes, que alternavam entre o romance lírico e o rock pesado. Se Ela For Embora é um grande exemplo disso. O segundo e último CD aliás, é recheado de música boa, rock n roll dos bons, como eles mesmos se definiam: Punck Rock, Hardcore, Rap, Raga, Rock n Roll. Meu irmão até chegou a dizer ´´vou dar o braço a torcer, esse dico é bom``. Teve até uma múica composta por Cris Braun, que era amiga da mãe de Pedro (a cantora brasileira, não aquele cantor que bate em mulher), Frankenstein, um ska reggae suave, e deve ter sido lindo a cantora ver o filho da sua amiga cantando uma canção composta por ela com seus amigo de banda. Pena que foi o último disco. Escutei-o exaustivamente a ponto de desejar um terceiro, mas sabia que era melhor esperar sentado, pois eles demoravam pra meirelles para lançar CD. O som do Baba era tão bom que até meus amigos para quem eu mostrava os CDs passavam a se amarrar também. Um ano depois do lançamento de O Que Você Quiser li no Globo uma parceria que eles estavam fazendo com Eduardo Duzeck, fazendo turnês juntos e até compartilhando o palco. Eduardo Duzeck chegou a gravar Sábado de Sol ao vivo e eu tenho esta peróla. Uma frase bonita que lembro de ter lido do Duzeck foi: ´´Se antes eu influenciava o Baba, hoje o Baba me influencia. Me dou bem com essa garotada de hoje``.
Comparação com outros grupos
Por ser um trio punkzinho, mesmo que Bubblegum, o Baba já foi apontado pela mídia como o Green Day brasileiro, assim como o Little Quail and The Mad Birds, trio de Brasília. Embora algumas semelhanças, um punk rock ligeiro e juvenil e letras escrachadas, o Baba era bem mais pesado. Tinha outras influências além do punk rock/ hardcore melódico.
As letras do Baba eram mais machistas do que punk. Nem pegavam pesado nas letras, e suas marcas principais registradas no dois CDs eram, além do chauvinismo adolescente, críticas contra o sistema policial (daqueles que dão dura em adolescentes mal criados), sempre empregando um diálogo entre um policial e um cívil, ode ao uso da maconha e problemas com vizinhos devido a sua sonzeira. A letra de Pau Pereira parece de música Axé, adaptada para o Rock n Roll.
Por que o grupo não fez mais sucesso não se sabe porque. Entre outras pérolas Rafael dizia que queria quebrar o recorde do Só Para Contrariar, mesmo que de sacanagem, e que a única pretensão que tinham era que escutassem o som nem que fosse para falar mal. Talvez eles não confiassem tanto em seu taco assim. Eles mesmo diziam que não queriam fazer sucesso, e se recusaram a aproveitar a chance que muito grupo adoraria, a de sucessores dos Mamonas Assassinas, embora tenha sido uma atitude bonita e positiva. Bom, talvez produtores não investissem no som do trio carioca. Para ser sincero, ouvi umas músicas de um show que o próprio Felipe disponibilizou na comunidade do Baba Cósmica no Orkut e me decepcionei. Teve músicas que nem reconheci de tão mal tocadas. Talvez tocar ao vivo não seja mesmo o forte do Baba. Certa vez Felipe Knoblitch disse que antes de lançarem o primeiro CD tinham feito apenas 12 shows.
Até mesmo matérias deles eram escassas. Acredito que o sucesso do grupo podia ser bem maior. Era tão pouco falado, que só mesmo quem tinha os CDs podia curtir o grupo. Ainda sobre a matéria na revista Dynamite Rafael disse que se não tivessem tido tanto problema podiam ter vendido bem mais no primeiro CD ( qua até o momento tinham vendido algo em torno dos 40 mil). E que problemas eram esses que podiam afetar o rendimento do grupo? Problemas de adolescente, de namorada, com o pais, de escola, de faculdade, talvez. Pela terceira vez, grupo de adolescente é foda.
Concluindo, ainda na época do primeiro CD, nesse lance da ligação com o Mamonas, diziam que a platéia dos shows eram em sua maioria compotas por mulheres e adolescentes, e que o assédio era grande, e que no segundo CD já estava ´´mais devagar``, provavelmente por que a fama já estava se esvaindo antes mesmo de seu fim oficial. Pelo que me parece, Baba Cósmica já tinha acabado antes e retornado, e certa vez, Rafael Ramos, que sempre dizia que seu Baba Cósmica ´´é o melhor grupo do mundo`` disse no programa do João Gordo anos atrás que não voltava mais não, e que o grupo era muito ruim. Produtor musical desde o tempos de banda, disse que não ouve mais nenhum de seus dois CDs, pois segundo ele ´´iria acabar achando defeito em tudo``. E por que será que as minas eram taradas por esses caras? Achariam eles mais para Boy Band do que para roqueiros do punk rock/ hardcore? Seja como for, Baba agora é coisa do passado. Pedro Knoedt pelo que sei se tornou contador e trabalha na Petrobrás, Felipe Knoblitch se formou em advocacia e continua tocando, não mais rock n roll, mas samba pop, tipo Jorge Benjor, como ele mesmo disse uma vez, não se afastando da música, e Rafael Ramos continua firme e forte em sua carreira como produtor musical, seguindo os passos do pai.
E se você não teve oportunidade de conhecer esse grupo bacana, vá atrás dos CDs. Dos downloads. Assim é mais fácil de achar.
Assista aos videoclips da banda. Uma Pedra no Meu Caminho (Gororoba, 96) e O Que Você Quiser (O Que Você Quiser, 98). Juro que tentei achar Sábado de Sol, mas não consegui, parece que o vídeo foi deletado do Youtube, o que é uma pena. Era um clip legal, trashão mesmo, o primeiro da banda, provavelmente filmado em VHS.