quinta-feira, 4 de julho de 2013

Somos Tão Jovens - Crítica

Texto publicado na revista Mais Mulher de Votuporanga - SP
























O que já é tradição no cinema brasileiro são biografias de artistas que fizeram nome por gerações em nossa terra, na maioria das vezes baseando-se em histórias repetidas inúmeras vezes por vasta bibliografia acumulada pelos anos, e em se tratando de Renato Russo, desde muito tempo objeto de estudo, estava mais do que na hora de ser produzida uma obra que não fosse simplesmente documental sobre sua persona. Para isso foi escalado Thiago Mendonça (o Luciano de 2 Filhos de Francisco) para encarnar o ídolo numa ficcional cinebiografia tocada por Antonio Carlos da Fontoura, que havia dirigido o péssimo Gatão de Meia Idade e roteirizado por Marcos Bernstein (Central do Brasil) baseado numa das biografias famosas do cantor. O filme já começa com o jovem Renato acometido por uma doença que o deixa entrevado na cama numa era sem Internet e pouco antes do boom do rock nacional a explodir em Brasília, fazendo o inteligente rapaz passar seus dias lendo e escutando rock, sua paixão. Aos poucos vai aprofundando seus conhecimentos por seu gênero musical predileto, descobrindo novas bandas e acompanhando o surgimento do movimento punk que foi chegando com tudo pelo mundo afora, sempre acompanhado de sua melhor amiga Ana (Laila Zaid, atriz que fez fama em Malhação), que na verdade é um mix das amizades coloridas que fizeram parte da juventude do rockstar, e amigos músicos futuros que ajudariam a compor o cenário musical em Brasília da segunda metade dos anos 70 e início dos 80, essencial para o rock nacional atual, com bandas que perduram até hoje. Citação a bandas estrangeiras como a inglesa Sex Pistols famosa por trazer o movimento punk para uma projeção mundial, não poderia deixar de existir. O Renato de Thiago Mendonça carrega uma expressão caricata numa interpretação preocupada em trazer para o papel todo seu maniqueísmo e comportamento peculiar no modo de falar e agir, o que pode ter soado exagerado, mas nada que incomode, sendo que para um filme feito para gerações antigas e atuais, que sequer conheceram o artista vivo, o ´´personagem`` desperta empatia e sua projeção foi muito bem humorada, e afinal, não é a concepção do artista que incomoda. O roteiro, por si só, é totalmente enxuto e politicamente correto, a despeito do que foi o filme do Cazuza, interessantíssimo objeto de estudo. Somos Tão Jovens poderia facilmente ser confundido com Malhação, por exemplo, uma dramaturgia preocupada sim em mostrar a trajetória do músico, mas igualmente preocupada em jogar para baixo do tapete aspectos relevantes, mas obscuros, como envolvimento com drogas pesadas, promiscuidade, depressão e a tentativa de suicídio de Renato, fato que o deixou impossibilitado de continuar tocando baixo. A bissexualidade do artista foi levemente arranhada e apesar de termos o conhecimento de que a proposta do filme é apresentar sua trajetória só até o momento em que sua banda em questão, Legião Urbana, deslancha para o sucesso, devemos lembrar que foi seu comportamento promíscuo e sexualidade polivalente irresponsável de longo prazo que o levou a adquirir a DST que lhe ceifaria a vida em 1996. O Renato do filme é um bom filho, bom irmão e um original professor de inglês, que de vez em quando dá uns ataques de rebeldia para cima de seus pais, mas nada que o difere de um garoto normal. Mas é interessante ver outros músicos originados na época retratados no filme, como o Dinho Ouro Preto (Ibsen Perucci) e o que mais achei curioso, não necessariamente de maneira positiva, o Herbert Vianna (Edu Morais), que mais parece uma paródia de programa humorístico de tão caricato. Em suas aparições o personagem está sempre deitado ou sentado, provavelmente para aproximá-lo de sua imagem de hoje de forma bem humorada, caprichando no seu jeito peculiar de falar, gírias e gestual, deixando a gente acreditando que nem o próprio levou na esportiva a imitação, ops, a interpretação. Philippe Seabra, vocalista e guitarrista do Plebe Rude, faz uma participação especial como o prefeito de Patos de Minas cidade onde acontece o primeiro show do Legião. Agnaldo Timotéo, outro músico da época, mas sem ligação com o movimento, também foi lembrado, de forma depreciativa apesar de debochada.



Aborto Elétrico

Aborto Elétrico foi a primeira banda de Renato. Numa época em que ele ainda era Renato Manfredini Jr, o jovem cheio de planos e pretensões artísticas conseguiu reunir um time musical formado por Flávio Lemos (Daniel Passi) e pelo problemático e sensível sul africano Petrus (Sérgio Dalcin), bem parecido com o roqueiro inglês Billy Idol, o primeiro dos três a ter um fim pelo uso demasiado de drogas, tendo seu distanciamento reduzido no filme por sua partida à sua terra para prestar serviço militar obrigatório. Mais tarde, substituído por Fê Lemos (Bruno Torres) o Power trio passa a tocar pelos festivais de rock da cidade influenciando outros jovens a formarem grupos mesmo sem saberem tocar, pois afinal de contas ´´para se ter uma banda punk não é preciso saber tocar``. O jovem Renato que carregava música e poesia no sangue, influenciado pelas próprias frases de efeito que proferia as transformando, mais tarde, em versos de composições de sucesso, se desentendendo várias vezes com seus companheiros de banda, numa delas totalmente arrasado pela morte de John Lennon, resolve se afastar e seguir carreira solo, fazendo shows somente acompanhado de seu violão se apresentando como O trovador Solitário, cantando futuras canções de sucesso como Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo, sendo recebido com escárnio até retomar suas atividades grupais. Aborto Elétrico se diluiu nos grupos Plebe Rude e Capital Inicial e Renato conheceu os parceiros que o acompanhariam pelo resto da vida, Marcelo Bonfá (Conrado Godoy), e Dado, interpretado pelo próprio filho do músico, Nicolau Villa-Lobos, que tiveram participação curta aparecendo lá no finalzinho da projeção, mas como parte do elenco não era composta por atores e sim por músicos, inclusive o próprio Thiago cantou sem auxílio de cantores profissionais, não faria mal substituir atuações rasas por canjas musicais, a verdadeira essência da obra. Ter a sensação de testemunhar o processo de criação de cada música e a opinião dos envolvidos, aliás, algumas delas, já que a carreira do grupo é razoavelmente grande, é uma experiência agradável até para quem não é fan.

Em suma, é um filme para toda família e seu didatismo histórico apenas atesta isso. A direção de arte é impecável, reproduz bem a ambientação dos anos 80 com capricho. Fiquemos com essa generosa imagem do ídolo nacional, que nada tem de enganadora, talvez protetoramente omissiva. Mas pudemos ter contato com o que de fato importava. E já que o Renato está com essa corda toda, podemos acreditar de bom grado que Faroeste Caboclo será, senão um filme que agrade gregos e troianos, pelo menos uma nova obra prima do cinema nacional. 


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