Dia desses um amigo meu me convidou para participar de um RPG online que ele estava viciado. Me contava o barato que era, a história do jogo, os detalhes, e me chegou até com uma novidade, o clan dele no qual queria que eu fizesse parte. Já tinha ouvido esse negócio de clan antes, mas confesso que nunca entendi direito, no entanto o convite não me interessou. Falando em RPG, tem um bom tempo que não jogo, para ser exato des de a década retrasada com meu irmão, que costumava mestrar os jogos. Eu como mestre dos jogos, embora tivesse idéias mirabolantes, ele nunca gostou muito. Enfim, RPG para mim teria de ser de livro, ou criado pelos mestre dos jogos, com mapa, ou até com tabuleiro e miniaturas dos guerreiros e monstros, e a reinvenção do Role Playing Game para CD Rom, videogame, nunca me atraiu, pois deixava as opções limitadas. Não me aprofundei na questão do RPG online, mas seja como for, o bom e verdadeiro RPG para ser jogado precisa de dados e um mestre dos jogos, não é mesmo? Pensando nisso me veio à memória uma querida coleção de livros jogos que não eram RPG, mas chegava bem perto, e se transpostos para os videogames seriam sim considerados RPG; a coleção livros-jogos Aventuras Fantásticas. Lá pelo final do ano de 1992 uma novidade estava contagiando a garotada que nunca havia se interessado em abrir um livro, era o tal RPG que chegava ditando moda no Brasil, fazendo até os pais ficarem contentes com a novidade de verem os filhos se interessando pela leitura. Mas aí era necessário ter duas ou mais pessoas para jogar, e sempre tinha aquele mestre dos jogos tímido ou retardatário e volta e meia se discutia para ver quem mestrava o jogo, independente de quem fosse o dono do livro. Bom, ao menos no meu tempo era assim. Só que com os livros-jogos era permitido jogar sozinho, onde se escolhia as opções fornecidas para a condução da história, tal como seu precursor Enrola e Desenrola, antes do dito cujo RPG, mas, ao contrário deste, a saga Aventuras Fantásticas tinha seu diferencial, como se dizia no verso do livro ´´dois dados, um lápis e uma borracha são tudo que você precisa para participar dessa emocionante aventura``, e, mais emocionante ainda, as primeiras frases do trecho: ´´Parte história, parte jogo, este é um livro no qual VOCÊ se torna o herói``.Esses livros, ao meu ver, foram mais viralizados que o livro de RPG em si, era muito fácil na época encontrar um moleque com um exemplar na mão na hora do recreio. Havia aqueles que faziam coleção, e também aqueles que diziam tirar onda por ter ganho um RPG, e quando mostrava a um colega mais esperto e mais esnobe era ridicularizado ´´Isso não é RPG não``. Claro que chegou ao Brasil diversas marcas, diversas editoras de RPGs e livros jogos, como Dungeons e Dragons, Tagmar, mas o que era indiscutívelmente mais popular era a coleção Aventuras Fantásticas, todos títulos assinados por Steve Jackson e Ian Livingstone, ou por um dos dois, mas o autor mais constante na maioria era Steve Jackson. Na época eu até pensava que os dois eram irmãos, antes de ler que eram fundadores da, como se dizia na época, ´´cadeia super bem sucedida mundialmente Games Workshop ``. Me recordo de um fato engraçado, muitos anos mais tarde encontrei num sebo um exemplar de O Calabouço da Morte e levei para casa. Ao me ver lendo, minha mãe me disse ´´Gostei de ver, lendo um livro. Esse autor é bom.``, no que eu respondi ´´E quem é o autor?`` ela deu uma espiada na capa e disse: ´´Ian Livingstone.`` Eu dei uma risada e emendei ´´Como você disse que o autor é bom se nem sabia quem era?`` Eis que ela respondeu: ´´Não importa, é literatura.``
Esquecendo dos RPGs, o Livro Jogo foi uma moda que chegou e foi embora. Mas não durou pouco tempo, antes da garotada descobrir jogos de RPG hiper realistas para videogame e computador, chegou, se não a colecionar, ao menos a adquirir vários títulos. Alguns colegas dos bons tempos se queixavam amargamente de terem sido ´´enganados`` ao adquirirem As Guerras de Trolltooth achando se tratar de um jogo, sendo na verdade um romance, o único romance da coleção até então. Num acesso de fogo na palha acabei adquirindo esse, mas só meu irmão acabou lendo. Considerado por muitos como um ´´videogame de papel``, ou mesmo ´´falta de videogame``, os livros jogos foram motivo de assunto por anos e anos nas salas de aula e no recreio por garotos de diferentes idades, numa era Pré-Internet. Guardei os meus por bastante tempo até os cupins comerem ou mesmo os meus primos sumirem com eles. Eu tive os seguintes títulos: O Feiticeiro da Montanha de Fogo, A Floresta da Destruição, O Calabouço da Morte, A Nave Espacial Traveller, O Templo do Terror, Mares de Sangue, Encontro Marcado com o M.E.D.O, Planeta Rebelde, A Cripta do Vampirto, Robô Comando, Prova de Campeões, Fúria de Príncipes-O Caminho do Guerreiro/ O Caminho do Feiticeiro e Punhais da Escuridão. Alguns deles achados tempos depois, e outros comprados (ou recomprados) anos ainda mais tarde encontrados num sebo, ou trocados com colegas. Meu irmão foi quem me apresentou esse universo com A Cidadela do Caos. Cheguei a comprar o que seria, teoricamente, o primeiro RPG lançado aqui, que tinha duas aventuras, O Poço dos Desejos e As Galerias Infernais de Shaggradd, mas foi numa época que todo mundo já conhecia as histórias. Mesmo sendo viciado, nunca zerei nenhum jogo, só cheguei em dois chefões finais, Zagor, de O Feiticeiro da Montanha de Fogo, que quando o jogador está chegando no final da caverna a seu encontro, se vê num tortuoso e confuso labirinto ´´à la`` Tezeus e o Minotauro, e ainda hoje quando me encontro numa situação complicada digo ´´Estou num labirinto de Zagor.``, e Balthus Dire, de A Cidadela do Caos, mas perdi dos dois. Também, último chefe com 12 pontos de habilidade é sacanagem. Engraçada a mania dos moleques da época de não ler ´´o final``, para não perder a graça. Até hoje tem muitos finais que não li por causa disso. Só zerei roubando A Floresta da Destruição.
Embora não goste de RPG para computador ou videogame, me amarro em jogo de temática inspirada, como o genial Castelvania. Também não era muito fan de livros jogos que não mantinham o mundo da fantasia medieval, com guerreiros, magos, monstros, universo esse influenciado por gênios como Tolkien e C.S. Lewis, e mais tarde influenciando também a escritora J.K. Rowling, inclusive, em sua obra encontramos o Basílisco, que em O Templo do Terror era um lagarto que petrificava quem olhasse diretamente para ele, mesmo que em Harry Potter fosse uma gigantesca cobra, e a Mandrágora, uma das criaturas finais de O Calabouço da Morte, que nas aventuras do jovem bruxo era uma raíz escandalosa.
Devemos agradecer a editora Marques Saraiva pelo momento de diversão ímpar que nos proporcionou com lançamentos dos livros jogos, e mesmo não tendo sido lançado títulos novos, a editora britânica Wizard Books relançou em seu país de origem alguns títulos da coleção em 2002, com capa nova, alguns nomes de personagens trocados, porém a mesma aventura e o mesmo sistema de jogos. A Inglaterra é mesmo o berço do RPG e Livros Jogos, portanto deve sempre mantê-los acesos, os renovando, nunca deixando morrer, mesmo que transfiram tudo para dentro de uma tela. Já aqui no Brasil, alguns títulos foram relançados em 2009 pela editora Jambo.
Balthus Dire |
Um comentário:
Seguindo, segue de volta?
www.diariodeumnerdescolado.blogspot.com
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