terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Historinhas dos primórdios da Turma da Mônica



Artisticamente falando, Maurício de Souza mandou muito mal ao lançar a Turma da Mônica Jovem, embora as vendas não fiquem devendo em nada aos gibis da Turma original. Sem dúvida os lançamentos dos gibis precisavam se reinventar e um grande acerto da editora de Maurício foi o lançamento da Turma da Mônica Coleção Histórica, que reúne bimestralmente gibis dos cinco personagens mais famosos desde o primeiro número, lançada desde 2007 acompanhada por uma caixinha de papelão montável para guardar a coleção. Atualmente já se encontra no volume 32 e apesar do preço um tanto alto (20 reais), devemos levar em consideração que o que levamos para casa não são apenas cinco revistinhas da Mônica e sua turma, e sim todo seu valor histórico acompanhado pelo surgimento e crescimento de cada personagem do universo deste Walt Disney brasileiro, um presente para a geraçao que se alfabetizou com a Turminha, e o preço acaba se tornando mais do que justo.

Eu já tinha esse prazer arqueólogo com relação aos gibis da Turminha desde meus 10, 11 anos. Fazia escavações nos sebos do meu bairro em busca das edições mais antigas possíveis, e já ficava todo contente quando encontrava gibis e almanaques dos personagens em seus primórdios da editora Globo, imagina então quando me deparava com exemplares da época da editora Abril. Meu irmão, cinco anos mais velho, teve acesso a gibis antigos e seu acervo contribuiu para meu enriquecimento cultural e prazer histórico por historinhas clássicas de tempos em que eu ainda engatinhava. Claro que quando descobria um gibi muito antigo seu estado de conservação era precário, com páginas amareladas, encardido, empoeirado, alguns sem capa e quase se desintegrando, mesmo assim eu comprava e acredite, fazia um verdadeiro ritual de manutenção para poder preservá-lo por muitos anos. Eu tirava a poeira, manuseava as páginas com todo cuidado e em alguns casos passava papel higiênico ou algodão umedecido em álcool uma à uma. Lembro que o gibi mais antigo que consegui encontrar foi um do Chico Bento de 1983, que inclusive já foi relançado na Coleção Histórica, e na época minha alegria foi tremenda em ter adquirido um exemplar do ano do meu nascimento. Tente enxergar o quão interessante é poder ler os gibis novinhos em folha de uma época que nem imaginávamos vir ao mundo, e ver nas histórias o que era moda e referência em outros tempos. Alguns exemplares não são assim, tããão jurássicos, como os da Magali, que teve sua primeira publicação ainda em 1989, mesmo assim é emocionante rever nas bancas edições imortalizadas em nossa querida memória da infância. Infelizmente só recentemente passei a comprar a coleção, mas ao que tudo indica é que a Coleção Histórica vai durar por muito tempo, já que atrai tanto crianças como adultos, que viveram os velhos tempos e sabem o que é bom. Um complemento importante é o comentário do roteirista Paulo Back, tal como os extras de um DVD. Ele explica cada historinha, contando em detalhes o que era válido para a época e o que para hoje em dia, até mesmo com o advento da censura, torna-se enviável repetir.


Os relançamentos dessas relíquias nos apresentam o surgimento e seu contexto inserido dos personagens não tão importantes, mas também não menos interessantes, como Capitão Feio, Seu Juca, C.B. - A Nuvenzinha Máu Caráter, Os Souzas, Nico Demo, Tv Zé Luisão, Dr Olimpo, Clotilde e Cremilda, Anjinho, e um dos que mais gosto, o Louco. Sua primeira aparição se deu já no primeiro número do gibi do Cebolinha, em 1973. Originalmente criado pelo irmão do Maurício de Souza baseado na aparência de um desenhista da equipe, o Louco é o que poderia ser considerado como o amigo imaginário do Cebolinha, já que só ele consegue enxergá-lo e é o único personagem da Turminha com quem ele contracena. Suas histórias não acompanham uma lógica racional, não tem estrutura de roteiro (começo, meio e fim), o que acaba não importando se o intuito é fazer o Cebolinha de bobo e quase enlouquece-lo. Mesmo assim é um barato e muito engraçado. Chego a compará-lo com o Chapeleiro Louco de Alice no País das Maravilhas, com o Gato, do filme do Mike Myers, e até com o Máskara, embora o personagem de Maurício tenha vindo bem antes dos dois últimos. Além disso as historinhas tem todo um clima de desenho animado, lembra os personagens da Looney Tunes, e o personagem principal do filme animado Uma Cilada Para Roger Rabbit. Porém, assim como muitos personagens, o Louco foi mais um que foi se pasteurizando com o tempo, sua loucura e suas elocubrações foram sendo enxugadas, o personagem não pode mais ser tratado por um paciente de hospital psiquiátrico em fuga ou fazendo coisas bizarras como lamber ferro de passar, ainda bem que as páginas e os quadrinhos das edições relançadas não são mutilados (a gente espera que não sejam nunca). Mais legal do que ver o Anjinho se metendo em planos infalíveis e levando coelhada é ver as bizarrices animadas e desconexas do amigo cínico do Cebolinha. Talvez se o Cebolinha o usasse em um plano infalível, conseguiria ser o dono da rua.

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