quinta-feira, 14 de abril de 2011

Diabruras para baixinhos e altinhos


Quando eu era moleque adorava ir ao dentista. Não que eu fosse uma criança masoquista e me amarrasse em sentir dor, nada disso, mas lembro que numa época de tratamento de canal, eu, garoto mimado, sempre armava um berreiro e ia levado para casa antes de deixar concluírem o tratamento. Nisso, a secretária, que era uma tiazinha boazinha, me oferecia na saída umas revistinhas em quadrinhos que pertenciam ao seu sobrinho quando era pequeno, todas da década de 70, a maioria de uma editora que até então nunca tinha ouvido falar, Editora Vecchi, dos personagens Gasparzinho, a bruxinha Luísa, o fantasminha Thelo, e é claro, o que mais me conquistou, o diabinho Brasinha. O primeiro gibi que escolhi foi da bruxinha Luísa, muito fofo por sinal, mas nas visitas seguintes ao consultório odontológico a cena se repetiria. O moleque que vos fala tanto esperneou que foi levado embora na metade do tratamento. A secretária fofa novamente deixou o moleque malcriado escolher outro gibi na mais pura boa vontade para ir o conquistando, e dessa vez peguei a estrela desse post. Gibi que me conquistou por anos e anos. Meu irmão, que na época atravessava uma fase cristã carola, perguntou como eu tinha coragem de escolher um gibi cujo protagonista é um capeta, mesmo um capeta fofo. Daquela época para hoje, os únicos momentos que pude ver Brasinha protagonizar historinhas foi nesse gibi da Harvey Comics, nunca ouvi falar antes nem depois, afinal, era um gibi da década de 70. Brasinha, como dito anteriormente, era um capeta fofo, um pouco levado, mas como toda criança normal, e ele ainda usava fraldas para ressaltar ainda mais a pureza do personagem. Ele tinha uma família toda de capeta, e é claro, amiguinhos, entre eles o próprio Gasparzinho que vez ou outra fazia uma ponta nas suas hitorinhas. Lembro de detalhes gostosos da infância com os ogros e gigantes bocós que rivalizavam com o Brasinha e acabavam se dando mal. Enfim, bons tempos aqueles. Falando assim chega a parecer que eu fazia uma coleção   né? Acontece que era um gibi bem grosso, e eu, aos nove anos, naturalmente ainda não adquirira o habito da leitura dinâmica atual, de modo que demorei um bom tempo para ler tudo. Eu levava para praia, para a escola, para o passeios, para as viagens, relia cada história, chegava a desenhar os personagens e brincar deles, e mostrava para meus amigos. Um em especial que me lembre é um grande amigo meu e do meu irmão, que faço questão de citar neste post, o Wagner. Quando eu mostrava os gibis que ganhava, ele sempre dizia: ´´Que secretária legal``. Acredite, eu chegava a sonhar com as historinhas desse diabinho camarada. Ao lado da Turma da Mônica, Brasinha e sua turma foram uma leitura crucial para minha formação de leitor e escritor. E assim fui mantendo comigo o gibi por anos e anos até enfim me livrar dele junto com outras revistas que colecionava, em 98. Desde então, nunca mais vi nada relacionado com esse personagem querido da infância.  A pergunta que não quer calar é como um personagem tão interessante como esse não ´´emplacou``. Não teve mais gibi, nem desenhos, nem mais nada. Talvez, os censores e a puta falsa ética social condene o uso de um diabinho em miniatura que vive no inferno com a família fazer parte da cultura de produtos destinados às crianças. Não estamos mais nos anos 70 e por incrível que pareça, o tempo encurta os limites da imaginação dos criadores, marginalizando o que poderia ser uma boa variação positiva. O que diria a igreja hoje em dia em relação ao personagem?

Bom, mas não vamos deixar o personagem morrer. Ele se mantém vivo nas recordações de quem um dia conheceu e se encantou com ele. Se não me engano ele é o mascote do America (e muito mané não sabe que é ele, hahahaha) e acho já ter visto uma tatuagem dele na bunda de uma atriz pornô. Façamos desse Gasparzinho marginalizado, alternativo e underground um grande ícone da lembrança de grandes ídolos da infância. E viva a Harvey Comics pela criatividade, fazendo uso desde sempre de personagens do mundo do terror que encantam as crianças mesmo assim. Lembremos do nosso Penadinho, que com certeza teve influência deles.

Pesquisando sobre o Brasinha, descobri detalhes  interessantes. Embora o meu gibi fosse da década de 70, Brasinha teve seu primeiro gibi em 1957, e seu nome original é Hot Stuff. Seu criador é Alfred Harvey e suas hitorinhas eram desenhadas por Howard Post e Warren Kremer. Leiam a matéria nesse site http://www.guiadosquadrinhos.com/personbio.aspx?cod_per=1462 caso tenha ficado curioso. É bala.


Hellboy Jr

Tudo que é muito maneiro gera alguma influência, e pelo que dizem, Hell Boy Jr, uma variação juvenil do demônio herói, teve sua parcela de inspiração do personagem da Harvey Comics. Mas, destinado para um público maiorzinho, os gibis formam uma minissérie do personagem criado por Mike Mignola contando com um humor ainda mais negro, mais sadomasoquista e mais escatológico. Tendo sua versão mais velha (e mais séria) do herói, o ideal era aproveitar uma onda ´´Superboy`` dos gibis e lançar no mercado este que seria o filho encapetado do satânico guerreiro, e assim Brasinha é reinventado em histórias divertidas que não sofrem riscos de serem censuradas, afinal, agora somos adultos.
Ainda não tive chance de ler Hellboy, mas pelo que li deve ser divertido pacas. Preciso dar um jeito de adquirir.

Acho que vou mandar esse post para o Kaikeucho. Ele vai falar que a mulher me corrompeu para o lado illuminati da força hahahahahaha.

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