Morre um grande ídolo da música pop inesperadamente, e com isso seremos bombardeados por muito tempo ainda com matérias sensacionalistas e saudosistas sobre o querido astro Michael Jackson. Hoje mesmo quando acordei liguei a televisão e já me deparei com imagens dele ao som de suas músicas mais tristes acompanhadas com uma locução funebre, alternando diversas fases de sua vida, pequeno, grande, negro, branco, até os dias atuais. Como muitos, eu torcia para que ele reergue-se seu sucesso nessa turnê que se iniciaria mês que vem, e agora só podemos lamentar seu fim prematuro. É mais triste ainda lembrar que os ingressos já haviam sido vendidos. O que nos resta agora é guardar na memória, até mesmo com muito bom humor, sua imagem, as polêmicas em que esteve envolvido e suas músicas (quem é que não gosta de ao menos uma música dele?) E que seja encontrado o destino certo para seus filhos.
Falando em programas sensacionalistas que exploram o tema da morte de um grande astro, lembro que o finado cantor mesmo em vida foi tema de grande parte deles por anos e anos, todas suas extravagâncias tinham sua atenção merecida dada pela imprensa. Ainda na primeira metade do ano 2000, no programa popularesco Eu vi na tv apresentado por Joâo Kléber, cansada de exibir as já saturadas pegadinhas costumeiras a direção do programa passava a se esforçar para exibir a cada semana uma atração sensacionalista sobre uma celebridade diferente, foi assim com o programa em que a filha do Silvio Santos deu uma entrevista que deixou seu pai e dono do SBT de cabelos brancos e o povão de queixo caído (sim, por incrível que pareça mesmo depois da mudança para pior do programa do João, ainda tinha público naquela hora da noite de segunda feira), com Dedé Santana que desabafou sobre sua mágoa e rixa com o outro integrante dos Trapalhões ainda em vida e lamentando pela falta de espaço na tv na época (mais duro ainda eram as provocações do João Kléber que dizia que as pessoas pensavam que ele também tinha morrido, hehe), e em um desses programas a atração era o sr Moonwalker, que embora não estando de corpo presente e não tivesse nada recente dele que merecesse atenção, o apresentador tentava por desenterrar suas atitudes estranhas do passado e levantando novas curiosidades e especulações sobre o que se passava em sua mente e em sua vida pessoal. E assim foi, enrolando o programa todo, que não falava de música, mas sim da pessoa, e em certo ponto o apresentador já chamava para o palco, cansado de fazer papel de apresentador de freak show sozinho, um ator de suas pegadinhas(!?) e uma moça que não me recordo quem era, ou se ´´era`` alguém (pode?). O ator relembrava fatos passados, a vinda do cantor para o Brasil, o clip gravado em um morro do Rio de Janeiro, suas acusaçõs de pedofilia, as manias estranhas dele como ter comprado aqui no Brasil uma coleção de chupetas e mamadeiras, que a moça que dividia as atenções no palco ´´aliviou`` o cantor dizendo que era para umas doações que ele costumava fazer nas creches de seu país, e ainda chegaram ao ponto de falar que o rei da música pop tinha um Catatau (o personagem dos desenhos mesmo) tatuado no pênis... diziam que ele brincava de bang bang com as crianças, com direito a pistolas de água e tudo, até altas horas da noite, e por aí vai. Mas o engraçado mesmo era que o rapaz, como todo bom ator de pegadinha, tinha uma cara de pau tremenda, e era com essa cara de pau que ele falava essas coisas como se fossem a coisa mais incrível do mundo, fingindo surpresa, constrangimento, espinafrando o astro, como se estivesse em um júri popular e o João Kléber fosse o juíz, e a gente ficava sem saber se se impressionava com o cantor ou se morria de rir com o ator das pegadinhas. Mas por fim sabemos por que ele foi chamado para ´´revelar`` verdades bombásticas sobre o ídolo. Cara de pau. Aff.
Mas o Eu vi na tv não foi sempre um programa ruim. Eu simplesmente a-m-a-v-a quando era feito apenas de pegadinhas. E nelas o convidado do programa temático sobre o Michael podia ficar numa boa. Na verdade o João Kléber quando era um contratado da RedeTv tinha dois programas, o Canal aberto (olha o nome ambíguo aí, seu João) que passava de segunda à sexta nas tardes, e esse Eu vi na tv, que passava só nas segundas à meia noite. O Canal aberto era um programa sensacionalista mesmo, barraco, essas coisas do estilo da Márcia Goldsmith e das antigas atrações do Ratinho. Já o Eu vi na tv era só de pegadinha, eu lembro muito bem de quando passava, eu ligava na RedeTv a noite esperando ansiosamente começar o programa para me deliciar com as pegadinhas, e ainda assistia a reprise no sábado às 20:30. Quando não estava em casa fazia questão de voltar correndo nesse horário, eu realmente amava ver aquilo. Tinha o Marquinhos, o gordão que repetia sempre ´´o que, o que, o que``, o Renê, aquele cabeludinho que era o Gabriel, aquele que sempre fazia papel de bêbado e quase sempre estava de cabelo bagunçado, o que fazia papel de frutinha, os fortões que intimidavam as pessoas, a dupla que assustava as pessoas na rua e depois saíam correndo, aquela loira gostosa da Flavinha, enfim muitos outros que foram aparecendo ao longo da duração do programa. Bons tempos aqueles. Para mim era a referência de humor e alegria que até hoje tomo como exemplo. Com o passar do tempo, visto a grande audiência, as pegadinhas foram se generalizando e passando a ocupar a programação do Canal aberto também, mas como eram as que já haviam passado no Eu vi na tv, não estragavam a surpresa do programa, até que numa tentativa de atirar para tudo que é lado em busca de audiência mesclada com pressa e falta de paciência profissional, as pegadinhas se misturaram entre os dois programas, ameaçando a integridade do Eu vi na tv e a alegria de esperar por ele. Acabou que os dois programas se tornaram só de pegadinhas, e isso por anos e anos, até que o Eu vi na tv teve que mudar o formato chegando ao ponto de exibir o já citado programa apelativo sobre Michael Jackson. As pegadinhas foram sendo tachadas de ´´armadas``, que os atores e a direção das pegadinhas combinavam com as ´´vitimas`` que fingiam serem pegas de surpresa, particularmente não ofereci resistência em acreditar, até porque os atores foram se tornando famosos pelo Brasil todo graças aos programas, e a quantidade e a frequencia das gravações levavam a crer de que era tudo armação mesmo. Mas isso pouco importava. Mesmo sabendo que eram armadas continuei assistindo e me divertindo com elas, como muitos outros brasileiros, e na minha opinião o que valia mesmo era o quadro de humor, já que a gente ri de um filme de comédia sabendo que são todos atores, por exemplo. Mas como as pegadinhas eram exibidas exaustivamente, acabou cansando o espectador e João Kléber, que já gostava de apelar, passava a se validar cada vez mais de sensacionalismo, até que um dia se mudou para Portugal onde continuava a gravar seus programas apelativos, dessa vez tendo como carro chefe o quado Teste de fidelidade, e àquela altura muita gente já tinha dado graças a Deus. As pegadinhas que fizeram alegria de muita gente, que saíram e voltaram da programação, que já foram criticadas pelo próprio apresentador que dizia não ser um apresentador só de pegadinhas e que era um comediante nato, acabou vencido por elas sustentando no ar o que o povo realmente gostava de ver, nunca mais deram as caras e os atores ou se aventuraram em outros humorísticos ou sumiram de vez (alguem lembra da Vila maluca?). Mas aí veio o Pânico que substituia a alegria e o humor escrachado que ficava faltando na emissora. Mas aí já é outra história.