Duas novas personagens
chegam para engordar o império Disney Princesas, em um território onde pouco
antes era dominado quase exclusivamente por personagens masculinos. A Pixar costumava
segmentar seus produtos para o público de garotos até o surgimento de Enrolados
(2011, Byron Howard e Nathan Greno) e Valente (2012, Mark Andrews e Brenda
Chapman), onde as princesas outrora indefesas e à espera do príncipe encantado
ganham novo fôlego para se tornarem figuras ativas e quase independentes. É
mais ou menos assim que funciona com Anna, sujeita a protagonista da trama
glacial Disney/ Pixar dirigida por Jennifer Lee, roteirista de Detona Ralph
(2012), curiosamente a primeira mulher a dirigir uma animação Disney,
juntamente com Chris Buck, diretor e roteirista de clássicos como Tarzan e
Pocahontas, moça animada e desastrada que sofre com o ingrato distanciamento de
Elsa, sua irmã mais velha, que mais tarde se tornaria a Rainha da Neve do reino
de Arendelle, e afeita a encontrar seu príncipe encantado, nem que fosse o
primeiro que aparecesse. Moldado aos gostos femininos, o filme é belíssimo
visualmente e repleto de mensagens atuais, não cabendo mais a superficialidade
dos filmes Disney de antigamente. Mas os tradicionais ingredientes que não
podem jamais envelhecer estão ali presentes, o príncipe (que de príncipe não
tem nada), dessa vez bem menos infalível, marca território para arrebatar o
coração de Anna, o rústico morador das montanhas Kristoff, rapaz simpático que
recolhe gelo e vende para a região, sempre acompanhado de sua mascote Sven, uma
rena que ele consegue compreender muito bem, além de companheira de aventuras
com quem sempre está disposto a dividir umas cenouras, os vilões, que mais uma
vez quebrando paradigmas o longa mostra que nem tudo é o que parece ser, e
tipos curiosos e divertidos como os trolls, amiguinhos de pedra conselheiros de
Kristoff, que pouco se sabe de suas origens e sua consequente forte ligação com
o personagem, o que pode tornar suas participações deficientes, mas nada que
ofenda a integridade da narrativa de um bom filme infantil. Mais importante que
Anna talvez seja mesmo Elsa, a responsável pela história que o filme tem a
oferecer, já que por causa dela o reino de Arendelle se tornou um maciço
território glacial, e nem por isso ela é pior que as bruxas malvadas ou as
madrastas, pois tudo tem uma explicação mais simples do que pode parecer. Mesmo
assim, ela é a responsável por inconvenientes e criaturas maléficas como seu
guarda-costas Marshmallow, um boneco de neve colossal que dá muito trabalho
para Anna e seus novos amigos, enquanto ela só queria trazer sua irmã de volta ao
seu lado e ao reinado de sua terra natal, mas a maior obra de Elsa sem dúvida,
ao menos para mim, foi o simpaticíssimo boneco de neve Olaf, candidato ao
melhor alívio cômico do filme, e bem elaborado também, inclusive, por se tratar
de um filme musical como um genuíno filme Disney, protagoniza sua própria
canção, No Verão, quando o boneco que sempre gostou de abraços quentinhos
fantasia encantado com o dia em que vivenciará seu primeiro verão, que compensa
nossos ouvidos por ouvirmos ad nauseam a irritante Por Uma Vez na Eternidade. Para
quem assistir ao filme esperando ver o bonequinho em ação deve estar preparado
para enfrentar uma decepção, o autômato está longe de ser um dos principais, ao
contrário do que o merchandising do filme
poderia sugerir, e justamente essa é uma das principais reclamações do longa.
Bom, talvez ele fosse se o filme, mais uma vez, fosse pensado no público
masculino. Ainda assim acho que ele merecia mais espaço, pois rouba mais
atenção do que as duas princesas principais, o comparo assim com os Minions da
franquia Meu Malvado Favorito, quem sabe no próximo Frozen Olaf tenha uma
participação maior.
Apesar de tudo, Frozen
não tem aquele romance rasgado, fica até mesmo devendo o tão clichezado beijo
que salvará a princesa de uma terrível danação. Há a substituição do velho pelo
novo, pelo que é mais importante, e valoriza, além do amor entre namorados, o
amor entre os entes queridos. Sem contar a lição que fica, não devemos confiar
em quem pouco conhecemos e precisamos ouvir os mais velhos, embora princesas
anteriores tenham feito fama fazendo o contrário, mas enfim, os tempos são
outros.
É
Hora de Viajar
Para abrir o longa nada
melhor do que assistirmos um especial curta do Mickey e sua turma como bônus. É
Hora de Viajar cumpre a missão de comemorar os 85 anos do camundongo mais
famoso do mundo. Dirigido por Lauren MacMullan (olha outra mulher dirigindo
animação Disney) combina a velha animação quadro a quadro, com os personagens
ainda em seus primórdios em traços originais, com efeitos contemporâneos 3D,
sendo que na versão original o espectador é agraciado com a voz do próprio Walt
Disney. Apesar de bem curtinho, é de fazer emocionar qualquer fan do universo
Disney.